sábado, 15 de julho de 2023

Se Deus é bom e criou todas as coisas, por que criou o diabo?


Conta-se que certo homem, a quem chamaremos de Jaime, costumava embaraçar os outros com a pergunta:

— Se Deus é bom e nos ama e quer que sejamos felizes, por que criou o diabo a fim de tentar-nos e induzir-nos a pecar?

Seu amigo Roberto replicou:

— Deus criou o diabo?  

 É lógico que sim — respondeu Jaime — Deus criou todas as coisas. O diabo não criou a si mesmo nem existiu desde toda a eternidade, pois neste caso haveria dois deuses rivais. Se há um Deus todo-poderoso, Ele deve ter criado o diabo.

Roberto pegou uma maçã completamente deteriorada e perguntou:

— Deus criou maçãs deterioradas?

— Não — disse Jaime — Ele faz com que as maçãs amadureçam, e devemos comê-las enquanto ainda estão bem conservadas. Se esperarmos até que apodreçam, a culpa é nossa.

Roberto perguntou ainda mais:

— Deus fez o uísque ou outras bebidas alcoólicas?

— Não. Ele criou os cereais, e os homens os transformam em bebidas alcoólicas.

— Está certo dizer, então, que o uísque e outras bebidas são obra das mãos de Deus?

— Não. Deus sabia, porém, que os cereais poderiam ser transformados em bebidas alcoólicas. Por que introduziu neles certos elementos que podem tornar-se prejudiciais? — indagou Jaime.

Disse Roberto:

— Mudemos de assunto, para ver se conseguimos responder a sua pergunta. Viu os destroços daquela locomotiva a vapor que explodiu o outro dia?

— Sim.

— Leu o nome dos fabricantes da locomotiva nos pedaços de ferro que sobraram?

— Sim.

 Ao ler esse nome, pensou acaso o seguinte: "Sei quem causou esta ruína: foi a companhia que construiu a locomotiva. Eles fizeram a máquina e são responsáveis por todas as consequências?"

Jaime retrucou:

— É lógico que não. Essa companhia fabrica locomotivas de primeira ordem. Milhares prestam bons serviços nas estradas de ferro do mundo todo. São absolutamente seguras quando usadas de maneira adequada. Mas os fabricantes não podem garantir as máquinas que não forem bem cuidadas. Ouvi dizer que o maquinista, neste caso, deixou que a água descesse a um nível muito baixo na caldeira. Portanto, a culpa é dele, e não da companhia.

— Concordo plenamente com o senhor e desejo que compreenda que a relação de Deus com Satanás é um tanto semelhante à dos fabricantes de locomotivas para com a máquina que explodiu. A única diferença é que no caso do diabo, ele foi ao mesmo tempo locomotiva e maquinista. Ele soltou o vapor do orgulho até ser lançado fora da linha. Arroja-se agora de um lado para outro, como anjo caído e mau, embora ainda seja chamado de "Príncipe da Potestade do Ar".


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