Uma boa notícia
precisa ser dada aos encurvados. Não aos fisicamente encurvados, por causa de
algum problema de coluna. Mas aos emocionalmente encurvados, aqueles que estão
carregando sobre os ombros há pouco tempo ou há muito tempo o peso das coisas
erradas feitas por querer ou por não querer. Quem precisa dar essa boa notícia
são os pais aos seus filhos, os pastores às suas ovelhas, o pároco aos seus
paroquianos, os profissionais de saúde mental aos seus pacientes, os
amigos aos seus amigos.
A boa notícia é que
o perdão existe. Perdão de toda coisa errada, de todo pecado, de toda
transgressão, de todo equívoco, de todo crime, de toda loucura. Esse é o âmago
do cristianismo. Essa é a razão pela qual Jesus veio ao mundo. Esse é o motivo
pelo qual Jesus foi levado ao matadouro. Essa é a boa notícia que os
missionários têm de levar até os confins da terra.
O perdão em sua plenitude é algo eticamente inadmissível. Só existe por
causa da graça de Deus. A graça é maravilhosa demais, é alta demais, é larga
demais, é comprida demais, é profunda demais. A graça não é prêmio, não é
recompensa, não é brinde, não é sorteio, não é mercadoria, não é troco, não é
pensamento positivo. A graça não é uma agradável mentira que os pastores, os
párocos, os conselheiros e os psicólogos pregam para nós. Nem uma agradável
mentira que nós pregamos para nós. Graça é graça e pronto.
O que pouco se sabe,
o que pouco se prega, o que ainda não foi plenamente atinado, tanto pelo
necessitado do perdão como pelos pregadores do perdão, é que o perdão nunca vem
sozinho. Ele está atrelado a outros resultados. Quando o perdão chega, chegam
também os seus componentes, os seus acompanhantes, o seu séquito, a sua trupe.
Encurvados, prestem
atenção! Pastores, párocos, missionários, psicólogos, pais e mães, avôs e avós
-- todos -- prestem atenção. Os que estão internados em alguma clínica, os que
estão encarcerados, os que estão no corredor da morte, os que estão no caminho
do suicídio, os que estão no confessionário, prestem todos muita atenção! O
perdão dado por Deus, o perfeito perdão, o perdão completo, o perdão
proporcionado pela graça e tornado possível por causa da Sexta-feira Santa,
torna-nos:
Livres da culpa -- a culpa some, a culpa vai embora, a culpa
afoga-se no fundo do oceano (Mq 7.19).
Livres do
remorso -- aquela dor no
íntimo, aquela inquietação da consciência culpada, aquele remordimento
constante some, vai embora, afoga-se no fundo do oceano.
Livres da vergonha -- aquele rosto corado de vergonha, aquele
rosto ruborizado, aquela marca de Caim some, vai embora, afoga-se no fundo do
oceano.
Livres da lembrança -- aquela triste história, aquele capítulo da
vida, aquele horrível episódio some, vai embora, afoga-se no fundo do oceano.
A graça de Deus é
perfeita, é completa, é curativa. Deus não faz nada pela metade. O perdão cura
tudo, não apenas parte, não apenas a metade, não apenas 99% do trauma.
Imaginemos se Pedro ficasse livre apenas da culpa, e continuasse por toda a
vida com o remorso, a vergonha e a lembrança daquele fracasso da tríplice
negação!
Essa pastoral está
firmada na promessa de Deus a Jerusalém até então coberta de vileza:
“Não tenha medo,
pois não provarás mais vergonha, não te sintas mais ultrajada, pois não
precisarás enrubescer, esquecerás a vergonha de tua adolescência, a chacota
sobre a tua viuvez, não te lembrarás mais dela!” (Is 54.4, TEB).
Elben César