A
Resposta Divina
De fato Jesus Cristo, o Filho de Deus... não foi
"sim e não", mas unicamente "sim". Todas as promessas de
Deus encontram nele o seu sim. (2 Coríntios
1.19-20).
Jesus é o Sim – o divino Sim. Muitas pessoas, hoje,
gostariam de optar pelo Cristianismo, mas acham que ele representa um
"Não" à vida. "Você não pode fazer isso." "Você não
pode fazer aquilo." "Você não pode fazer aquilo outro" – se for
um cristão. Isto é, na verdade, uma negação da vontade de viver. É a vontade de
se entregar e morrer.
Por isso ouçam o meu texto: "De fato Jesus
Cristo, o Filho de Deus... não foi "sim e não", mas unicamente
"sim". Todas as promessas de Deus encontram nele o seu sim."
Este versículo diz que há um divino Sim, a resposta divina. E diz que
finalmente ele foi proferido. Porque antes de Jesus a vida era um
"Não". Os antigos não sabiam dizer "Sim".
O maior "Não" foi Buda. Ele refletiu
profunda e demoradamente sobre o problema do sofrimento. E chegou à conclusão
de que a existência e o sofrimento são uma coisa só. A única maneira de nos
afastarmos do sofrimento é nos afastarmos da existência. A única maneira de nos
afastarmos da existência é nos afastarmos do desejo. Basta cortarmos a raiz do
desejo – até mesmo o desejo de viver – e entraremos naquele estado de inanição,
de impassibilidade que e o Nirvana, um estado, literalmente, de vela apagada.
Certa vez eu perguntei a um monge budista no Sri
Lanka: "Há alguma existência no Nirvana?" Ele respondeu: "Como
pode haver? Lá não há sofrimento; portanto, não há existência." O Nirvana
dá um grande "Não" à vida. Buda se livraria dos problemas da vida
livrando-se da própria vida: é o mesmo que livrar-se da dor de cabeça livrando-se
da própria cabeça. Este tom de negativismo trágico também percorre quase todo
drama japonês. A atmosfera das religiões japonesas e orientais é Não. Não, Não,
Não!
O hindu vedantista pretende ir além do pessoal para
chegar ao impessoal, o Brama. Por isso ele se senta, medita e diz "Ah ham
Bram, Ah ham Bram" ("Eu sou Brama"). Mas o Brama é o impessoal.
Não é "ele", é neutro. A filosofia vedântica diz que o máximo que se
pode dizer sobre Brama é Neti. Neti. "Isto não. Isto não."
Assim, tanto para os budistas como para os seguidores
do vedanta o mundo é Maia, uma ilusão. Não é real. Assim, não se pode mudar o
que é irreal. É um jogo que no hinduísmo é chamado de lila, o jogo de Deus. O
que você pensa ser realidade, não é realidade. É como um mágico criando um
mundo irreal, ilusório à sua volta.
O humor dos dias atuais é cinismo. Muitas pessoas
estão amarguradas com a vida. São cínicas e negativas. Esta nossa era é irônica
e insatisfeita com tudo. Ela tem um código que diz: "Não acredito nisso;"
"não acredito naquilo;" "não acredito naquilo outro." Tenta-se
viver por um Não. E isto está se tornando desagradável e triste, pois não se
pode viver por um Não. É preciso viver por um Sim.
Bertrand Russell disse que a vida é uma garrafa de
vinho muito ruim que deixa um gosto desagradável na boca. Um grande ator que
estava morrendo, disse: "Abaixem as cortinas, a farsa acabou. Não há
realidade na vida, ela é uma farsa." Sartre, o existencialista francês, disse:
"O inferno são as outras pessoas." Como se pode ter uma sociedade
quando se acredita que as pessoas são o próprio inferno?
O materialismo chega a uma conclusão negativa
semelhante. Um homem muito capaz, químico e chefe do departamento de química de
uma grande universidade, me disse que o homem nada mais é que combustão,
combustão química. Ele queima por alguns anos e depois se apaga, transformando-se
em cinzas. Eu disse ao dr. George Carver, o grande santo e cientista negro:
"Você e um químico. O que você diria em resposta à afirmação deste homem –
de que nada somos senão combustão química?" Ele disse: "O pobre
homem, o pobre homem." Isto é tudo o que ele diria. Seria uma resposta
bastante adequada, porque se você tem uma visão pequena da vida, uma filosofia
pobre, você será uma pessoa pobre. Se você acredita que no final da vida só
restarão cinzas, você viverá a vida como uma cinza. Um nada.
Agora, será Jesus um Sim ou um Não?
Se ele for um Não, não podemos recebê-lo, pois não podemos viver por uma
negação. Temos que viver pela afirmação, pois somos seres afirmativos. Não
podemos viver pelo Não e pelo cinismo.
Depois destas eras de Não, Não, Não,
surge esta declaração de Paulo, talvez uma das maiores que jamais fez: nele,
Jesus Cristo, finalmente, depois de um longo período de Não, Não, Não, chegou
uma afirmação – o divino Sim foi proferido! Em contrapartida aos Nãos humanos,
um divino Sim foi proferido, pois nele todas as promessas de Deus encontram o
seu Sim. Ele é o divino Sim – não uma adivinhação humana, mas um divino Sim, a
resposta divina! Ele afirma todas as promessas de Deus? Sim!
1. Agora, voltemo-nos a algumas das promessas de Deus.
Eu estive na URSS e visitei um museu antirreligioso. Quando cheguei ao final,
virei-me para a guia russa e disse: "Você acha que esta é uma resposta
adequada à religião? Eu acho que é um terrível Não contra o sistema organizado
da religião construído ao redor de Cristo, mas vocês ainda não chegaram ao
verdadeiro ponto - Cristo e seu reino." Ela respondeu: "Não, não
creio que seja uma resposta adequada, mas nossos cientistas estão organizando
um novo museu. Nele, estão traçando a gênese da religião a partir da mágica e
da superstição. Esta seria uma resposta adequada."
Eu disse: "Não estou bem certo,
porque vocês concluiriam demais. Vocês vão se livrar da religião por causa de
sua origem baixa? Mas, e as outras coisas? De onde veio o cirurgião moderno?
Ele veio de um curandeiro que dançava ao redor do fogo, murmurando palavras
mágicas. Vocês vão se livrar do cirurgião moderno por causa de sua origem? De
onde veio o astrônomo moderno? Ele veio do astrólogo, um pseudo cientista que
tentava ler os destinos nas estrelas."
De todas as tolices que os jornais
publicam hoje em dia, a mais absurda é o horóscopo. Cinco milhões de pessoas
nos Estados Unidos tentam decidir seus destinos de acordo com a posição das
estrelas – como se massas de matéria flutuando no espaço pudessem decidir o
destino de um ser espiritual feito à imagem de Deus e com o poder de escolha!
Quando uma pessoa não tem fibra suficiente para tomar suas próprias decisões,
ela se volta para as estrelas e planetas e deixa que eles as tomem no seu
lugar. Isto é sempre sinal de decadência.
Devemos nos livrar da astronomia
moderna por causa desta sua origem? Não. Isto é pseudo ciência, não ciência
genuína. Quando nos livramos da religião porque ela deriva de formas mágicas e
vis, temos de nos livrar de outras ordens da sociedade em que se poderia
encontrar origens vis.
Mas eu não acredito que a religião
tenha se originado da mágica e da superstição. Ela assume, frequentemente,
formas mágicas e supersticiosas, mas creio que a gênese da religião esteja numa
ânsia de vida. Tagore diz que todas as coisas buscam a perfeição. Concluo que a
ânsia religiosa é esta ânsia de vida tornada qualitativa.
Nós queremos viver não apenas mais
plenamente, mas melhor; no momento em que dizemos "melhor", temos
padrões; e no momento em que temos padrões, temos religião. Enquanto as pessoas
quiserem viver plenamente e melhor, seremos religiosos. Na verdade, somos
incuravelmente religiosos. Jesus é a Resposta Divina a isto. Ele finalmente
respondeu a esta ânsia de vida. Ele disse: "Eu vim para que tenham vida e
a tenham em abundância" (João 10.10).
2. Uma segunda coisa que percebo em Jesus é que ele é o
Sim a Deus. Muitos se questionaram se Deus existe ou não. Os budistas dizem:
"Não nos importamos de usar o conceito de Deus, ou mesmo de acreditar no
conceito de Deus, mas não o usamos porque se o usarmos, poderemos
manchá-lo." Eles acreditam que Deus é tão santo e está tão infinitamente
acima de nós que a humanidade pode manchar o conceito. Agora, Jesus, ao invés
de manchar o Conceito de Deus ao usá-lo, disse simples e tranquilamente:
"Quem me vê a mim, vê o pai" (Jo 14.9). Então eu digo: "Deus é
como Cristo? Se for, ele é um Deus bom e confiável." Eu não poderia
imaginar Deus melhor do que o que vejo no rosto de Jesus.
Eu estive num templo hindu e havia
pinturas um tanto grosseiras pelas paredes. Observei ao pujari, o homem
responsável pelo culto: "Estas pinturas o ajudam no culto?" Ele
respondeu: "É preciso ser muito forte para vir a este templo para fazer
culto. De outro modo pode-se sair e fazer o que os deuses fazem, assim como
está retratado nestas paredes." "Ó," eu disse. "O homem se
elevará acima de seus deuses. Mostre-me os seus deuses e eu lhe mostrarei o seu
homem." Interiormente, disse para mim mesmo: "Não é maravilhoso que
eu possa olhar no rosto de Jesus Cristo e saber como é o meu Pai
celestial!"
Um garotinho estava nos Estados
Unidos enquanto seu pai e sua mãe atravessavam os mares como missionários. O
dia de Natal chegou e o diretor da escola disse a si mesmo: "Aquele
garotinho sentirá saudade de seus pais." Por isso ele foi vê-lo e
disse-lhe: "O que você mais gostaria que acontecesse nesta manhã de Natal?
" O garotinho pensou por um momento e, apontando para o retrato de seu pai
que estava sobre a cômoda, disse: "Mais que tudo, eu gostaria que meu pai
saísse desta moldura e viesse ficar comigo." Este é o lamento saudoso da
humanidade: "Eu gostaria que o meu Pai celestial saísse da moldura do
universo e descesse para estar comigo. " Isto aconteceu! Deus saiu da
moldura do universo, e o vimos no rosto de Jesus Cristo. Ele é Deus conosco.
Pois Jesus Cristo é o nosso Pai celestial, personificado – conosco. Ele é a
Resposta a este clamor da humanidade por algum poder sobre nós.
3. O terceiro Sim afirma que a natureza humana pode ser
modificada. Esta também é uma promessa de Deus. Algumas pessoas, no Oriente e
no Ocidente, pensam que a natureza humana nunca muda; que ela é fixa e
imutável, e que você está destinado a ser o que é. Jesus concede um novo
nascimento nesta vida. O primeiro nascimento nos trouxe ao universo natural, e
o segundo nascimento nos leva ao reino de Deus. Esta é uma mudança tão radical
que é chamada de novo nascimento.
Jesus disse isto a um homem já um tanto idoso:
"Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode
ver o reino de Deus" (João 3.3). Nicodemos olhou em seus olhos e disse:
"Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao
ventre materno e nascer segunda vez?" (João 3.4). A resposta de Jesus:
Não, não é isto. Mas você pode passar por um novo nascimento nesta vida. É um
nascimento que vem do alto, através do Espírito.
Muitas pessoas acreditam no renascimento; isto é, na
reencarnação, a noção de que se volta à terra por meio de um nascimento atrás
do outro. Os hindus dizem que é preciso que uma pessoa passe por 84 milhões de
renascimentos antes de encontrar a Deus e ser libertada do ciclo do contínuo
renascimento. Ter que voltar 84 milhões de vezes antes de se livrar deste samsara,
como o chamam, é uma perspectiva sombria! É absurdo crer que alguém deva ser
punido nesta vida por erros cometidos numa vida anterior, de acordo com a lei
do Carma. Esta crença colocou uma mão imobilizadora sobre a Índia, bem como
sobre os países budistas onde se sustenta este conceito.
Mas Jesus disse Sim a um novo nascimento. Ele disse
que você pode nascer de novo nesta vida. Tudo o que você obteve num nascimento
natural foi por meio de seus pais. Agora você pode nascer do alto.
Você não precisa ser o tipo de pessoa que é. Você pode
nascer de novo e este novo nascimento se estende à mente consciente e
inconsciente. Você pode começar de novo. A culpa acumulada do passado é
removida – perdoada. Você pode ser libertado por meio de um novo nascimento.
"E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas" (2 Coríntios 5.17).
Jesus é o Sim que afirma que você pode ser diferente,
que você não precisa ser o mesmo. Mas pode a natureza humana ser modificada?
Ela é mais modificável do que qualquer outra coisa na terra. Mudar faz parte da
natureza humana. O novo nascimento pode fazê-lo passar do ódio ao amor, da
derrota à vitória, e torná-lo uma pessoa diferente. Eu não me importo com o que
você foi ou o que você é. Jesus é o Sim a um novo nascimento.
4. Além disso, ele é o Sim à plenitude do Espírito
Santo. Nós queremos não apenas nascer de novo, mas ser capazes de enfrentar
tudo aquilo que possa acontecer com nossos novos recursos, que são totais e
adequados. Estes recursos nos dão o poder para enfrentar todas as coisas. Este
novo poder vem do Espírito Santo.
Quando os apóstolos foram ao cenáculo
pela primeira vez após a ressurreição, eles eram crentes tímidos. Escondiam-se
por trás de portas fechadas, cheios de medo. Embora Jesus tivesse ressuscitado
e eles soubessem disso, estavam cheios de medos naturais. Então algo aconteceu:
nós o chamamos de Pentecostes. Eles não tinham ganho uma única pessoa durante
os três anos em que estiveram com Jesus, mas nas três horas subsequentes ao
Pentecostes ganharam três mil. Algo tinha acontecido. O Espírito Santo tinha
entrado em suas mentes subconscientes e as purificado. Antes do Pentecostes,
Pedro costumava dizer: "Eles – eu". "Eles podem negá-lo, mas não
eu." Ele vivia numa relação "Eles-eu". Mas quando o Espírito Santo
desceu sobre Pedro, ele passou a dizer "nós" – "Nós não podemos
evitar senão falar das coisas que vimos e ouvimos." Ele tinha adquirido
poder – o poder do Espírito Santo. Ao contar o que tinha acontecido, Pedro
disse: "A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.
Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito
Santo, derramou isto que vedes e ouvis" (Atos 2.32-33).
Portanto, Jesus é o Sim que afirma
que Deus pode governar – e o faz – nos recessos mais íntimos de nossos
corações. Ele é a mente subconsciente que não podemos controlar. Ali ele pode
nos purificar e nos tornar adequados. Portanto ele é o Sim à plenitude do Espírito
Santo. Ele é o Sim ao cenáculo. A porta está aberta – através dele. E se você
receber o Espírito Santo, ele o tornará uma pessoa como Cristo.
Finalmente, portanto, depois de longo
tempo a Resposta Divina foi proferida através dele. Jesus é o Sim a todas as
promessas de Deus: a promessa de que há um Deus, um Pai por trás deste universo
que cuida de toda a criação; de que este Pai se manifesta na face de Jesus
Cristo, pois o nosso Deus é como Cristo; de que a humanidade pode ser
diferente, e que a vida pode ser totalmente mudada; de que o nosso vazio pode
tornar-se pleno quando cada recesso de nossa vida interior e exterior for
invadido e capacitado pelo Espírito Santo. A todas estas promessas Jesus Cristo
é o Divino Sim, e nós pertencemos a ele.
Se você pertence a Jesus, você
pertence ao reino que não pode ser abalado pela morte ou velhice. O
Cristianismo significa dizer sim ao seu Sim. Entregue-se à sua vontade e você
estará dizendo sim ao Sim dele. Todo o universo está por trás dele. Você andará
na terra como um vencedor, sem medo de nada.
Eli Stanley Jones
Este é um dos principais sermões já pregados por E. Stanley Jones. Extraído do livro A Resposta
Divina (No Cenáculo/Imprensa Metodista, 1995).